terça-feira, 3 de março de 2015

Os Holandeses no Brasil - Apogeu e Decadencia da Economia Canavieira



Invasão holandesa é o nome ao periodo em que de 1630 e 1654 os holandeses ocuparam do nordeste brasileiro. Na verdade, tendo sido intentado pelos Países Baixos, o nome correto deveria ser "Invasão neerlandesa".

Antecedentes



O conflito iniciou-se no contexto de crise de sucessão dinástica em Portugal (a morte inesperada do Rei Dom Sebastião na batalha de Alcacer Quibir no Marrocos) que teve como consequenciada chamada Dinastia Filipina (União Ibérica, no Brasil), período compreendido entre 1580 e 1640, quando Portugal e suas colônias estiveram inscritos entre os domínios da Coroa da Espanha.
À época, os Países Baixos lutavam pela sua emancipação do domínio espanhol, vindo a ser proclamada, em 1581, a República das Províncias Unidas, com sede em Amsterdã, separando-se da Espanha.
Uma das medidas adotadas por Filipe II de Espanha em represália, foi a proibição do comércio espanhol (e português) com os seus portos, o que afetava diretamente o comércio do açúcar do Brasil, onde os Holandeses tinham grandes investimentos no na economiam açucareira no Brasil e se viram prejudicados


Por esta proibição e prejuizos os holandeses voltaram-se para o comércio no oceano Índico, vindo a constituir a Companhia das Índias Orientais (1602), que passava a ter o monopólio do comércio oriental, o que garantia a lucratividade da empresa.
O êxito dessa experiência levou os neerlandeses à fundação da Companhia das Índias Ocidentais (1621), a quem os Estados Gerais (seu órgão político supremo) concederam o monopólio do tráfico e do comércio de escravos, por 24 anos, na América e na África. O maior objetivo da nova Companhia, entretanto, era retomar o comércio do açúcar produzido no Nordeste do Brasil.

Periodização




Em linhas gerais, as invasões holandesas do Brasil podem ser recortadas em dois grandes períodos:
1624-1625 - Invasão de Salvador, na Bahia
1630-1654 - Invasão de Recife e Olinda, em Pernambuco
1630-1637 - Fase de resistência ao invasor
1637-1644 - Administração de Maurício de Nassau
1644-1654 - Insurreição pernambucana






A resistência



A resistência, liderada por Matias de Albuquerque, concentrou-se no Arraial do Bom Jesus, nos arredores de Recife. Através de táticas indígenas de combate (campanha de guerrilhas), confinou o invasor às fortalezas no perímetro urbano de Olinda e seu porto, Recife.
As chamadas "companhias de emboscada" eram pequenos grupos de 10 a 40 homens, com alta mobilidade, que atacavam de surpresa os holandeses e se retiravam em velocidade, reagrupando-se para novos combates.
Entretanto, alguns senhores de engenho de Pernambuco perceberaqm que a administração dos holandeses na politica do açúcar eram bem mais interessante aos seus negócios pois a Holanda sendo mais liberal e de tradição calvisnista era melhor apra o desenvolvimento dos seus negócios.
Neste grupo ficou para a historiografia o líder Domingos Fernandes Calabar, considerado por historiadores mais tradicionais como um traidor ao apoiar as forças de ocupação e a administração neerlandesa.
Destacaram-se nesta fase de resistência luso-brasileira líderes militares como Martim Soares Moreno, Antônio Felipe Camarão, Henrique Dias e Francisco Rebelo (o Rebelinho).

O consulado nassoviano


Vencida a resistência portuguesa, com o auxílio de Calabar, a WIC nomeia o Conde João Maurício de Nassau para administrar a conquista.
Homem culto e liberal, Nassau concedeu liberdade de culto aos imigrantes judeus e protestantes, trouxe consigo artistas para pintar nossa fauna e flora e cientistas para estudar as potencialidades da terra. Preocupou-se com a recuperação da agro-manufatura do açúcar, concedendo créditos e vendendo em hasta pública os engenhos conquistados.


Cuidou da questão do abastecimento e da mão-de-obra, da administração e promoveu ampla reforma urbanística no Recife (Cidade Maurícia). Concedeu liberdade religiosa, registrando-se a fundação, no Recife, da primeira sinagoga do continente americano.

A Insurreição pernambucana


Também conhecida como Guerra da Luz Divina, foi o movimento que expulsou os neerlandeses do Brasil, integrando forças lideradas pelo senhor de engenho André Vidal de Negreiros, pelo afro-descendente Henrique Dias e pelo indígena Felipe Camarão.

 Tal movimento de expulsão dos holandeses se deu no o contexto da Restauração portuguesa; Portugal reconquistou sua autonomia politca e assinou um acordo com os holandeses uma trégua de 10 anos onde os holandeses poderiam retirar aquilo que investiram no Brasil.
Era período no nordeste do Brasil, os engenhos de cana-de-açúcar viviam dificuldades num ano de pragas e seca, pressionados pela WIC, que sem considerar o testamento político de Nassau, passou a cobrar a liquidação das dívidas aos inadimplentes. Essa conjuntura levou à eclosão da Insurreição pernambucana, que culminou com a extinção do domínio neerlandês no Brasil.
De acordo com as correntes historiográficas tradicionais em História do Brasil, esse movimento assinala o início do nacionalismo brasileiro, pois os elementos étnicos brancos, africanos e indígenas fundiram os seus interesses na luta pelo Brasil e não por Portugal.


Conseqüências


Em conseqüência das invasões ao nordeste do Brasil, o capital neerlandês passou a dominar todas as etapas da produção de açúcar, do plantio da cana-de-açúcar ao refino e distribuição. Com o controle do mercado fornecedor de escravos africanos, passou a investir na região das Antilhas.
A açúcar produzido nessa região tinha um menor custo de produção devido, entre outros, à isenção de impostos sobre a mão-de-obra (tributada pela Coroa portuguesa) e ao menor custo de transporte. Sem capitais para investir, com dificuldades para aquisição de mão-de-obra e sem dominar o processo de refino e distribuição, o açúcar português não consegue concorrer no mercado internacional, mergulhando a economia do Brasil em crise que atravessará a segunda metade do século XVII até à descoberta de ouro nas Minas Gerais.


CAIU NO ENEM

Rui Guerra e Chico Buarque de Holanda escreveram uma peça para teatro chamada Calabar, pondo em dúvida a reputação de traidor que foi atribuída a Calabar, pernambucano que ajudou decisivamente os holandeses na invasão do Nordeste brasileiro, em 1632.
Cartaz da Peça "Calabar" de
Chico Buarque

– Calabar traiu o Brasil que ainda não existia? Traiu Portugal, nação que explorava a colônia onde Calabar havia nascido? Calabar, mulato em uma sociedade escravista
e discriminatória, traiu a elite branca?

Os textos referem-se também a esta personagem

Texto I: “...dos males que causou à Pátria, a História, a inflexível História, lhe chamará infiel, desertor e traidor, por todos os séculos”
Visconde de Porto Seguro, in SOUZA JÚNIOR, A. Do Recôncavo aos Guararapes. Rio de Janeiro: Bibliex, 1949.

Texto II: “Sertanista experimentado, em 1627 procurava as minas de Belchior Dias com a gente da Casa da Torre; ajudara Matias de Albuquerque na defesa do Arraial, onde fora ferido, e desertara em consequência de vários crimes praticados...“ (os crimes referidos são o de contrabando e roubo).
CALMON, P. História do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 1959

Pode-se afirmar que:
a) A peça e os textos abordam a temática de maneira parcial e chegam às mesmas conclusões.
b) A peça e o texto I refletem uma postura tolerante com relação à suposta traição de Calabar, e o texto II mostra uma posição contrária à atitude de Calabar.
c) Os textos I e II mostram uma postura contrária à atitude de Calabar, e a peça demonstra uma posição indiferente em relação ao seu suposto ato de traição.
d) A peça e o texto II são neutros com relação à suposta traição de Calabar, ao contrário do texto I, que condena a atitude de Calabar.
e) A peça questiona a validade da reputação de traidor que o texto I atribui a Calabar, enquanto o texto II descreve ações positivas e negativas dessa personagem.


Letra E. Observando os documentos oferecidos, notamos que a figura de Calabar assume os mais diferentes tipos de juízo. No primeiro texto da peça, ele é heroicizado em contraposição à velha abordagem histórica que considerava Calabar como um traidor da pátria, conforme salientado no texto I. Finalmente, analisando o texto II, observamos a existência de uma visão equilibrada onde as interpretações extremas cedem lugar a um personagem histórico mais bem delineado. É importante lembrar que  Esta questão mistura um fato histórico e literário, e cobra interpretação de texto. Novamente, aqui o fato serve apenas como contexto. No entanto, a leitura que Chico Buarque faz de Calabar é bastante interessante e pode levar a muitas discussões, desafiando a história oficial.

3. (Fuvest) Foram, respectivamente, fatores importantes na ocupação holandesa no Nordeste do Brasil e na sua posterior expulsão: 
a) o envolvimento da Holanda no tráfico de escravos e os desentendimentos entre Maurício de Nassau e a Companhia das Índias Ocidentais. 
b) a participação da Holanda na economia do açúcar e o endividamento dos senhores de engenho com a Companhia das Índias Ocidentais. 
c) o interesse da Holanda na economia do ouro e a resistência e não aceitação do domínio estrangeiro pela população. 
d) a tentativa da Holanda em monopolizar o comércio colonial e o fim da dominação espanhola em Portugal. 
e) a exclusão da Holanda da economia açucareira e a mudança de interesses da Companhia das Índias Ocidentais. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário